Bíblia: Por que UM LIVRO DE SALVAÇÃO?

Bíblia: Por que UM LIVRO DE SALVAÇÃO?

Bíblia: Por que UM LIVRO DE SALVAÇÃO?
 

Talvez nenhuma outra palavra bíblica tenha sofrido tanto a partir do mau uso e da compreensão equivocada do que é .salvação.. Alguns de nós, cristãos, somos culpados pela caricatura que se tem apresentado dela ao mundo. Consequentemente, a palavra .salvação. tem sido para muitos fonte de vergonha ou até mesmo alvo de ridículo. Devemos resgatá-la desse conceito tacanho com o qual a palavra tem sido com frequência degradada. Pois salvação é uma palavra grande e nobre, como vou demonstrar a seguir. Salvação é liberdade. Sim, e também renovação; em última instância, a renovação do universo inteiro.

 

Ora, o propósito supremo da Bíblia, Paulo escreve a Timóteo, é instruir seus leitores .para a salvação.. Isso indica diretamente que a Escritura tem um propósito prático, e que esse propósito é moral, e não intelectual. Ou, ainda, que a instrução intelectual que ela provê (sua .sabedoria., como indica a palavra grega) visa a uma experiência moral chamada .salvação..

 

A fim de assimilarmos mais a fundo esse propósito positivo da Bíblia, pode ser útil contrastá-lo com alguns dos propósitos que ela não tem.

Bíblia: Por que UM LIVRO DE SALVAÇÃO?

Em primeiro lugar, o propósito da Bíblia não é científico. Isso não significa que o ensino da Escritura e o da ciência estejam de alguma forma em conflito um com o outro, pois ao mantermos cada um em sua própria esfera e discernirmos o que cada um está afirmando, eles não estão em conflito. De fato, se o Deus da verdade é autor de ambas, não poderiam estar. Também não quer dizer que as duas esferas nunca se sobreponham e que nada que a Bíblia diga tenha qualquer relevância científica, pois a Bíblia contém proposições que podem ser (e em muitos casos têm sido) comprovadas cientificamente. Por exemplo, nela está registrada uma série de fatos históricos, como Nabucodonosor, rei de Babilônia, ter cercado, ocupado e quase destruído Jerusalém e Jesus de Nazaré ter nascido quando Augusto era o imperador de Roma.

 

O que estou afirmando é que, embora possa conter dados científicos, o propósito da Bíblia não é científico.

 

A ciência (pelo menos a ciência natural) é um corpo de conhecimento laboriosamente adquirido pela observação, experimentação e indução. O propósito de Deus na Escritura, entretanto, foi revelar verdades que não podem ser descobertas por esse método (chamado pelos cientistas de .método empírico.), coisas que teriam permanecido desconhecidas e encobertas se ele não as tivesse revelado. Por exemplo, a ciência pode ser capaz de dizer alguma coisa sobre nossa origem material (embora até mesmo essa permaneça uma questão aberta); apenas a Bíblia revela nossa natureza, tanto nossa nobreza única na qualidade de criaturas feitas à imagem do Criador quanto nosso estado de degradação como pecadores egoístas revoltados contra nosso Criador.

 

Em segundo lugar, o propósito da Bíblia não é literário. Há alguns anos foi publicado um livro intitulado The Bible designed to be read as literature. É uma edição primorosa. A disposição tradicional em versículos foi abandonada, e a diagramação indicava claramente o que era poesia e o que era prosa. Tudo isso auxilia. Além disso, ninguém, quaisquer que sejam suas crenças ou descrenças, pode negar que a Bíblia contém de fato literatura admirável.

 

Ela fala sobre os grandes temas da vida e do destino humanos e os trata com simplicidade, discernimento e imaginação. Sua tradução do original foi tão boa que em alguns países, como Inglaterra e Alemanha, a Bíblia tornou-se parte da herança literária nacional. No entanto, Deus não planejou a Bíblia como literatura grandiosa. Ela contém fraquezas estilísticas gritantes.

 

O Novo Testamento foi em grande parte escrito em grego koiné, a linguagem cotidiana do mercado e do trabalho, e muito dele carece de refinamento literário, até mesmo exatidão gramatical. O propósito da Bíblia está em sua mensagem, não em seu estilo.

 

Em terceiro lugar, o propósito da Bíblia não é filosófico. É evidente que a Escritura contém sabedoria profunda . na verdade, a sabedoria de Deus. Todavia, alguns dos grandes temas que os filósofos têm enfrentado não recebem um tratamento exaustivo na Escritura. Vejamos, por exemplo, o grande problema do sofrimento e do mal. Como fenômenos da experiência humana, são figuras proeminentes na Bíblia. Em quase todas as páginas homens e mulheres pecam, homens e mulheres sofrem. Alguma luz é lançada . de forma suprema na cruz. Sobre ambas as questões. Mas nenhuma explicação definitiva é oferecida para qualquer um dos dois, tampouco os caminhos de Deus são justificados em relação a eles, em termos aceitáveis pela filosofia humana.

 

Até mesmo no Livro de Jó, que se concentra no problema do sofrimento,

Jó por fim humilha-se diante de Deus sem chegar à compreensão da providência divina. Creio que o motivo é o fato de a Bíblia ser simplesmente um livro mais prático do que teórico. Está mais interessada em nos dizer como suportar o sofrimento e vencer o mal do que em filosofar sobre sua origem e propósito.

Bíblia: Por que UM LIVRO DE SALVAÇÃO?

A Bíblia não é, portanto, basicamente um livro de ciência, nem de literatura, nem de filosofia, mas de salvação. Com isso, devemos atribuir à palavra salvação. o sentido mais amplo possível. A salvação é muito mais do que meramente o perdão dos pecados. Ela inclui o amplo alcance do propósito de Deus de redimir e recuperar a humanidade e, de fato, toda a criação. O que sustentamos a respeito da Bíblia é que ela revela o plano integral de Deus.

 

Ela começa com a criação, para que possamos saber sobre a semelhança divina em que fomos feitos, as obrigações que repudiamos e as alturas de que caímos. Não somos capazes de entender nem aquilo que somos no pecado nem aquilo que pela graça podemos chegar a ser até que saibamos o que fomos pela criação.

 

A Bíblia prossegue apresentando-nos a forma como o pecado entrou no mundo e a morte como resultado do pecado. Enfatiza a gravidade do pecado, como revolta contra a autoridade de Deus, nosso Criador e Senhor, e a justiça do julgamento divino contra ele. Há muitas advertências salutares na Escritura sobre os perigos da desobediência.

 

No entanto, o tema propulsor da mensagem bíblica, como será discutido em profundidade no Capítulo 5, é que Deus ama esses mesmos rebeldes que nada merecem de sua mão a não ser o juízo. Antes que o tempo começasse a correr, diz a Escritura, seu plano de salvação tomou forma. Ele se originou em sua graça, sua livre e imerecida misericórdia. Ele selou com Abraão uma aliança de graça, prometendo por meio de sua posteridade abençoar todas as famílias da Terra. O restante do Antigo Testamento dedica-se a narrar seu relacionamento gracioso com a posteridade de Abraão, o povo de Israel. A despeito de sua obstinada rejeição de sua palavra, como veio até eles por meio da lei e dos profetas, ele em nenhum momento os abandonou. Eles quebraram a aliança, não ele.

 

A vinda histórica de Jesus cristo foi em cumprimento dessa aliança:

 

Bendito seja o Senhor Jesus Cristo, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o

seu povo, e nos suscitou plena e poderosa salvação na casa de

Davi, seu servo, como prometera, desde a antiguidade, por boca dos seus santos profetas, para nos libertar dos nossos inimigos e

das mãos de todos os que nos odeiam; para usar de misericórdia

com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança e do juramento

que fez a Abraão, o nosso pai, de conceder-nos que, livres

das mãos de inimigos, o adorássemos sem temor, em santidade e

justiça perante ele, todos os nossos dias.

Lucas 1:68-75

 

É importante observar que a prometida .salvação dos nossos inimigos. é compreendida em termos de .santidade e justiça. e . mais adiante na mesma passagem . de .redimir [o povo] dos seus pecados, graças à entranhável misericórdia de nosso Deus..

 

O Novo Testamento, portanto, concentra-se no trabalho dessa salvação, a caminho do .perdão. e da .santidade. por meio da morte e do sacrifício de Jesus e do dom do Espírito Santo. Os apóstolos enfatizam que o perdão é possível apenas pela morte de Cristo levando sobre si os pecados, e um novo nascimento que conduz a uma nova vida é possível apenas por intermédio do Espírito de Jesus Cristo. As epístolas, por sua vez, estão cheias de instruções éticas práticas. Conforme 2Timóteo 3:16, a Escritura não é útil apenas .para o ensino, para a repreensão., mas também para a educação na justiça.. As epístolas também apresentam a Igreja de Cristo como a sociedade dos salvos, chamados a uma vida de serviço sacrificial e de testemunho no mundo.

 

Por fim, os autores do Novo Testamento insistem em que, embora o povo de Deus já tenha sido em certo sentido salvo, em outro sentido sua salvação encontra-se ainda no futuro. É-nos dada a promessa de que um dia nosso corpo será redimido. .Na esperança fomos salvos.

 

(Rm 8:24). E nessa redenção final toda a criação estará de alguma forma envolvida. Se teremos um novo corpo, haverá também um novo céu e uma nova terra permeados apenas pela justiça. Nesse momento, e apenas nele, sem nenhum pecado, quer em nossa natureza, quer em nossa sociedade, a salvação de Deus estará completa. A gloriosa liberdade dos filhos de Deus será a liberdade para servir. Deus será tudo em todos (Rm 8:12; 1Co 15:28).

 

Essa é a abrangente salvação apresentada na Escritura. Concebida na eternidade passada, alcançada num momento do tempo e historicamente concretizada na experiência humana, ela atingirá a consumação na eternidade do futuro. A Bíblia é única em sua afirmação de instruir-nos para .tão grande salvação. (Hb 2:3).

 

Fonte: livro Entenda a Bíblia / John Stott; traduzido por Paulo Purim.

Veja mais...

 

 

 

Conheça Nosso Novo Site EBD Viva Igreja Forte